Agora, se aceitarmos a tese keynesiana que a redução do consumo deprime a economia (é um “se” grande, admito, mas para já vamos assumir que sim), estas duas formas de anti-consumismo terão diferentes consequências:
– o anti-consumismo “de direita” (trabalhar e poupar mais) originará os problemas clássicos das recessões económicas: teremos a economia em queda e gente à procura de trabalho sem o arranjar
– já o anti-consumismo “de esquerda” (trabalhar menos e gastar menos) talvez seja inofensivo: realmente a redução do consumo irá deprimir a economia; mas se essa redução do consumo for acompanhada por uma redução da oferta de trabalho (por exemplo, tirando anos sabáticos de vez em quando, ou passando a trabalhar em horário reduzido), em principio já não teremos o tal problema do desemprego, já que a redução da procura de trabalho é capaz de ser compensada pela redução da oferta de trabalho**
*isto não é uma regra rígida – tenho a ideia que os comunistas ortodoxos costumam estar mais próximos da mentalidade de trabalhar e poupar do que da de trabalhar menos e gastar menos (mas talvez os comunistas ortodoxos não contem como “esquerda cultural”); por outro lado, uma certa direita “aristocrática-camponesa” (praticamente extinta hoje em dia) às vezes também criticava a mentalidade “de classe média” de fartar-se de trabalhar para subir na vida (ver, por exemplo, The Menace of the Herd [pdf], de Erik von Kuehnelt-Leddihn)
**recordo que as expressões “oferta de trabalho” e “procura de trabalho” significam o contrário daquilo que parece: “oferta de trabalho” são os trabalhadores que se disponibilizam para trabalhar, e “procura de trabalho” são as empresas que procuram trabalhadores
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